segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Vogue L’Uomo – Edição Outubro/2010 // Tradução



Gémeos Únicos – Tokio Hotel

As suas caras ainda são jovens e frescas, de boas maneiras, educados: Bill e Tom são o coração e o cérebro da maior banda alemã dos últimos anos.

Embalados por um som pop-rock único, eles escalaram nas tabelas internacionais, criando um verdadeiro mito.
Para além da sua paixão pela MÚSICA, os dois irmãos têm muito mais em comum: ideias, amigos, sonhos. “Mas nós também discutimos, e muito”, afirmam. “Temos personalidades diferentes. Somos duas faces da MESMA moeda forte.”

Claramente habituados a deslocar-se desde os 15 anos de idade, de um local para o outro, entre os recintos mais distintos do mundo situados nas maiores capitais da Europa e da Ásia; e mais uma vez, com concertos esgotados, a ribalta, hotéis de cinco estrelas, limusines de edição limitada, nem os irmãos Gallagher nos seus melhores tempos conseguiram tal tratamento VIP, aquele com que qualquer jovem estrela de rock sonha e as passereles (como a passerele dos DSquared durante a Semana de Moda de Milão em Janeiro) – se tivermos tudo isto em conta, e observarmos o ar curioso, espantado e quase extraterrestre que assola as jovens e frescas caras de Bill e Tom Kaulitz, o coração e o cérebro dos Tokio Hotel, achamos estranho.


Eles vagueiam pelos quartos do Palácio Biscari, a esplêndida mansão barroca do século XVIII em Catania – na qual teve lugar a sessão fotográfica destas páginas – com passos cuidadosos, respeitadores e tímidos, como se não quisessem interferir com o genius loci. Era de esperar que estes rapazes – que cresceram depressa demais e agora já têm 20 anos – tomassem tudo por garantido, tendo em conta os milhões de álbuns que já venderam por todo o mundo, o último deles, Humanoid (Universal) foi lançado há exactamente um ano. Mas não. Eles passam de um quarto para o outro, e quase nem acreditam que hoje estão aqui. “É um palácio magnífico, um tesouro da arte: de onde viemos não existem locais assim”, menciona Bill com um sorriso hesitante, referindo-se à sua terra natal, Magdeburgo. Mas foi aí, nessa vila conhecida pelas suas minas, parte da antiga Alemanha Oriental, onde há 10 anos atrás o conto de fadas dos Tokio Hotel começou. Ainda mal tinham 7 anos, os irmãos Kaulitz já andavam ocupados a tocar guitarra com os seus estilos extravagantes, o que atraiu o pior que havia nos seus colegas, pelos quais os gémeos idênticos, eram já na altura vistos como extraterrestres. Não admira que na altura o Tom já fosse vidrado em Aerosmith e no guitarrista Joe Perry, enquanto o Bill era um grande fã de David Bowie e da arte da rápida transformação dos White Duke. “Ele é mesmo um dos meus artistas favoritos: eu já vi o “Labirinto” centenas de vezes”, admite ele. Um paradoxo, especialmente tendo em conta a acalmia da vida do campo, seres tu mesmo e desejares expressar-te sem seres criticado é visto como um acto sem sentido a maior parte das vezes. “Na escola os problemas nunca acabavam. Os meus colegas não me aceitavam, especialmente pela minha forma de vestir. Na altura eu não podia comprar roupas caras, por isso eu fazia-as, cortava e costurava eu mesmo, talvez comprasse algumas t-shirts por uns tostões. O resultado era em grande parte das vezes original, eu gostava, eu fazia-o com muita paixão. No entanto, com toda a certeza, que não ajudava a manter-me a mim e ao meu irmão Tom longe de brigas com alguns colegas. O nosso maior sonho era fazer música e sermos livres para nos expressarmos”, relembra Bill. Um sonho que, para os irmãos Kaulitz, começou a parecer possível quando conheceram Georg Listing e Gustav Schäfer, que mais tarde se tornaram, respectivamente, no baixista e no baterista dos Tokio Hotel. “Encontrar alguém que, com a nossa idade, se quisesse juntar a nós numa banda ou partilhar os nossos sonhos e desejos era muito difícil. Foi por isso que, no início, era só eu e o Bill: fazíamos tudo sozinhos, tocávamos todos os instrumentos e depois começámos a fazer uns concertos pequenos na nossa terra. Num dos nossos concertos, na audiência estavam o Gustav e o Georg também; no fim da nossa actuação, eles vieram cumprimentar-nos e perguntaram se se podiam juntar ao grupo”, lembra o Tom, enquanto abana a cabeça e as longas tranças que lhe caem pelos ombros. São perfeitas para o seu estilo hip-hop. E foi com esta constituição que os Devilish nasceram em 2001 – três anos mais tarde, o nome muda para Tokio Hotel – e veio o seu primeiro álbum, Schrei, que continha a música Durch den Monsun, pouco tempo depois traduzida para o famoso sucesso Monsoon, quando o álbum foi lançado na sua versão inglesa, Scream. EM 2005, os Tokio Hotel arrancaram para a mais bem sucedida tour no seu país e tranformaram-se na banda de maior importância da Alemanha desde a banda de metal, Rammstein. E malharam em ferro quente: em 2007 lançaram o seu segundo álbum em alemão, Zimmer 483, o qual mais tarde, seria também incluído em Scream (lançado no mesmo ano).

Documentando a Tokio Hotel Mania que ainda atravessa todo o mundo, em particular durante os espectáculos ao vivo do quarteto, está o recentemente lançado DVD Humanoid City Live, uma gravação do concerto dado em Milão, no passado 12 de Abril. “Foi uma noite mágica, tudo correu bem. Temos fãs incríveis aqui em Itália, são dos melhores,” diz Tom. Bill acrescenta, “Fizémos tantos concertos, é difícill escolher a audiência que nos impressionou mais. Itália, é um dos países onde recebemos sempre as maiores boas vindas, e adoramos tocar aqui. Mas haverá um espectáculo que nunca esquecerei, aquele que fizémos em Paris em 2007 aos pés da Torre Eiffel, em frente a 500 mil pessoas. Eu nem conseguia ver onde terminava a multidão”.

Alguma vez pensaram que isto pudesse acontecer? “Se alguém nos tivesse dito, há 10 anos atrás, que um dia seriamos tão famosos, nunca teríamos acreditado”, diz Tom. “O primeiro ano foi caótico – a nossa agenda estava cheia de concertos promocionais, constantemente a viajar de um país para outro. Toda a gente queria falar connosco. Foi muito divertido, mas quase nos impediu de perceber que as nossas vidas tinham mudado. Quando já não conseguiamos mais sair de casa sem ser reconhecidos ou parados por fãs, nessa altura, percebemos”, diz Bill, que concorda com Tom no facto de, não terem arrependimentos por terem renunciado a uma vida normal como a dos jovens da sua idade. “Tens de fazer escolhas na vida. Nós, tivémos de decidir entre uma vida normal, ou seguir o nosso sonho da música. Crescemos rapidamente. Aos 12 ou 13 já tinhamos feito coisas que a maior parte das pessoas só faz aos 20. Talvez a única coisa de que sintamos falta, seja de sair, para ir ao supermercado, ou comer um gelado, sem uma equipa de segurança”, admite ele. “Eu gostaria de viver em Los Angeles, onde as celebridades podem fazer o que quiserem sem serem abordados por paparazzis”, diz Bill, que recentemente fez uma nova tatuagem, na lateral do seu tronco. “É uma frase alemã que diz algo como: Eu não pararei de gritar, voltaremos às origens”. Eu fi-la para me lembrar da importância da liberdade de expressão de me expressar incondicionalmente e sem limites”, um sentimento partilhado por Tom. Os irmãos, na verdade, partilham praticamente tudo: ideias, casa, amigos. “Nunca estamos separados. A única vez em que isso aconteceu foi na escola, quando a professora nos separou em duas turmas diferentes. Foi a pior experiência da minha vida. Temos um laço muito forte que nos une. O que não quer dizer que não discutimos, por vezes violentamente”, revela Bill. “Não, não somos como os irmãos Gallagher, nunca chegariamos a esse ponto. Depois de um par de horas já nos esquecemos e está tudo bem. As nossas personalidades são muito diferentes e somos distintos até em termos de imagem. Mas juntos formamos uma única e forte pessoa. Somos os dois lados da mesma moeda”, explica Tom.

“Não temos nenhuma espécie de arrependimento. Alcançámos o nosso sonho. Talvez fosse apenas necessária a liberdade para sair e comer um gelado, sem seguranças”.

Tradução por: www.thzone.org

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